Recentemente, a notícia do falecimento de Antônio Augusto Dunshee de Abranches trouxe à tona memórias de uma das relações mais complexas e impactantes na história do Flamengo: a do ex-presidente com o maior ídolo do clube, Zico. O próprio Galinho, em suas redes sociais, lamentou a perda, citando “problemas pessoais” com o dirigente, mas reconhecendo sua importância para a geração rubro-negra. Essa declaração reacendeu o debate sobre a **venda histórica de Zico** para a Udinese em 1983, um episódio que marcou a trajetória de ambos e do clube.
A relação entre Dunshee de Abranches e Zico foi uma verdadeira montanha-russa de emoções, que oscilou entre o “céu e o inferno”, como bem descreveu a imprensa da época. Dunshee foi o único presidente campeão mundial na história do Flamengo, e sua gestão consolidou o Rubro-Negro como uma potência nacional e mundial, conquistando o Carioca, a Libertadores e o Mundial de 1981, além dos Brasileiros de 1982 e 1983. Contudo, foi também durante seu mandato que ocorreu a crise política que culminou na polêmica **venda de Zico**, levando à sua renúncia.
A Era de Ouro e os Primeiros Acordes da Relação
Antes do turbilhão da venda, Dunshee de Abranches teve um desafio crucial: a renovação do contrato de Zico em 1981. Aos 28 anos, o craque já era consagrado e fundamental para a Seleção Brasileira e para o Flamengo, que acabara de conquistar seu primeiro Campeonato Brasileiro. O mundo do futebol olhava para Zico, e o Barcelona chegou a tentar sua contratação. No entanto, o desejo de Zico era permanecer no Ninho do Urubu, e o Flamengo não queria abrir mão de seu maior trunfo.
A questão financeira era o principal entrave. Após intensas negociações, Zico aceitou uma proposta de dois anos, incluindo 50 milhões de cruzeiros de luvas e salários significativos. Dunshee de Abranches, eufórico, celebrou o que considerou um “grande negócio”. Para levantar os valores, o clube chegou a cogitar amistosos com o poderoso Boca Juniors de Maradona, mas a solução veio através de uma inovadora parceria de marketing com a Coca-Cola, intermediada pelo então presidente da CBF, Giulite Coutinho. Essa renovação foi vital para a sequência de títulos que se seguiria, com o Flamengo erguendo as taças do Carioca, da Libertadores e do Mundial de Clubes naquele mesmo ano, e mais dois Brasileiros em 1982 e 1983.
A Venda Histórica: O Preço do Sucesso e a Despedida
O ano de 1983 viu o Flamengo faturar o tricampeonato brasileiro, e Zico, no auge, viajou para a Alemanha para um jogo festivo. Ao retornar, deparou-se com a manchete bombástica: “Zico vendido por 2 bilhões à Itália”. A Udinese, com o futebol italiano em ascensão e a possibilidade de contratar estrangeiros, fez uma proposta irrecusável de US$ 4 milhões. Diante do dilema de renovar e, em dois anos, perder o jogador sem compensação financeira devido à lei do “passe livre” aos 32 anos, a diretoria rubro-negra optou pela venda. Foi uma decisão que chocou o Rio de Janeiro e a nação rubro-negra.
A Gávea se transformou em palco de protestos intensos. Centenas de torcedores, incluindo chefes de organizadas, ocuparam o local, gritando “Ih, ih, ih, se vender vai explodir”. Instalações do bar foram quebradas, e a polícia precisou intervir. Dunshee, que inicialmente se recusava a assinar sem que Zico declarasse publicamente o desejo de ser transferido, convocou o Conselho Deliberativo. A venda foi aprovada por 111 votos a três, selando o destino do Galinho. Uma tentativa de última hora da Adidas para manter Zico no clube não se concretizou, pois, segundo o próprio jogador, a proposta já estava inserida nos valores anteriores.
As “Lágrimas de Crocodilo” e a Renúncia
O que mais arranhou a já conturbada relação entre Zico e Dunshee de Abranches foram as polêmicas fotos do presidente nas capas do jornal O Globo. Em uma, ele aparecia sorrindo; em outra, simulava chorar sobre uma camisa 10 do Flamengo. A torcida logo cunhou o termo “lágrimas de crocodilo”. Zico, anos depois, classificou o gesto como “desnecessário”, embora respeitasse o presidente. O filho de Dunshee, Rodrigo, defendeu o pai, afirmando que a foto do choro era uma brincadeira, tirada com a garantia de que as câmeras estavam desligadas.
A pressão se tornou insustentável. Após uma derrota de 3 a 0 para o Botafogo em agosto de 1983, mais de dois meses após a venda, a situação chegou ao limite. Dunshee de Abranches, escoltado pela polícia para deixar o Maracanã, reuniu a imprensa e anunciou sua renúncia, quatro meses antes do fim do mandato. Ele declarou: “Eu sei que a torcida está revoltada porque vendi o Zico. Se é para o bem do Flamengo, eu, a partir de hoje, me afasto da presidência”. A **venda histórica de Zico** havia cobrado seu preço mais alto do presidente.
Apesar da dor da despedida, o legado da venda se solidificou com o tempo. Zico retornaria ao Flamengo em 1985, conquistando mais um Brasileiro em 1987. O dinheiro de sua transferência, tão criticado à época, foi fundamental para a compra do terreno onde hoje se localiza o Centro de Treinamento Ninho do Urubu, um símbolo de modernidade e um pilar para as futuras glórias do clube. A complexa e, por vezes, dolorosa relação entre Dunshee de Abranches e Zico é, sem dúvida, um capítulo inesquecível na rica história do Flamengo.
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